segunda-feira, 14 de março de 2016

A cidade onde nasci - Silva Porto, agora Kuito

Kuito ( ex - Silva Porto ) - Capital do Bié

Poucas histórias se assemelham a esta. No centro de uma terra em forma de coração, uma cidade nasce, ergue-se,imola-se, uma cidade cai. Cura as feridas e ressuscita – a cidade. O Kuito, capital do Bié, late no centro do país. Na antiga Silva Porto, a tinta fresca que pinta a cidade de novo remete cada vez mais para as linhas da História os fantasmas de tempos passados.
Não se fale mais da guerra. Acabou. E o Kuito-Bié é mais que essa prisão do que aconteceu. 1993/1994. 1997/1998. Datas. Números que já passaram. E ponto final.
Hoje como sempre, o ar fresco do Planalto Central percorre as ruas da cidade desenhada a régua e esquadro. Vista do ar, a capital do Bié é uma malha perfeita de ruas e avenidas. Horizontais e verticais em intersecções de urbe planeada para crescer como mandam as regras. O Kuito revive com força. Edifícios, muros, igrejas renasceram e estão de cara lavada.

Igreja destruída durante a guerra - Está em reconstrução

A história da cidade é breve, mas interessante. Nasceu como Amarante, em 1771. Um posto avançado dos colonos no Planalto Central, em pleno reino do Viye. Em 1845, atraído pela cera e borracha que por ali abundavam, chega à região o boticário e comerciante português Silva Porto. Com a autorização do rei Ndunduma, instala-se num lugar afastado da embala Ecovongo, fundando o seu pequeno lugarejo com o nome de Belmonte.

A história do explorador português terminaria de forma trágica. Cansado dos ouvidos moucos das autoridades coloniais, resistentes aos seus apelos para apostar na região, em Março de 1890 o velho e doente Silva Porto abraçou uma bandeira de Portugal e fez explodir um barril de pólvora dentro da sua casa. Acabou por morrer uns dias depois. No lugar onde viveu, ainda hoje se pode ver uma estátua em sua memória.

Remetida a este esquecimento pelo poder central português durante anos e anos, a região recebeu o grande impulso revitalizador com a construção do Caminho-de-Ferro de Benguela, que ali tinha (e ainda tem) uma das estações principais. O progresso chegou rapidamente e, em 1935, Belmonte virou cidade, com o nome de Silva Porto. Em Junho de 1977, passou a chamar-se Kuito.

A capital biena é uma cidade agradável por onde dá gosto caminhar tranquilamente. Uma visita ao largo do governo, com os seus três edifícios cor-de-rosa totalmente recuperados, e à Catedral, em frente ao famoso prédio do Gabiconta, é também obrigatória. O contraste com as fotografias de outros tempos é evidente, e é uma prova viva de que o Kuito virou a página.



Se quiser aventurar-se para pontos mais ou menos afastados da cidade, então vá até Kamacupa e visite a famosa Estátua do Cristo Rei que marca o centro geográfico de Angola. Com forma de coração encravada no meio do país, a província do Bié oferece também lugares fantásticos como a Reserva Florestal do Umpulo, ou as praias fluviais – praia do Kuito, Praia Verde (Kunhinga) ou Praia Azul (Andulo). Antes de ir, confira, no entanto, o estado das estradas. Muitas delas ainda não estão totalmente transitáveis.
Arrume então as imbambas, e vá de mente aberta ao Kuito. Quando chegar, espante-se com uma cidade em movimento. Coma um bom pirão (funge de milho) com peixe de um dos muitos rios da região, beba uma boa ualende (aguardente de cana de açúcar) e relaxe. Verá que nem tudo é o que lhe contaram. Principalmente, verá que hoje, o Kuito-Bié é vida




Bié é uma província de Angola. Tem área de 70 314 km² e a sua população aproximada é de 1.794 000 habitantes. A sua capital é a cidade do Kuito.
É formada pelos seguintes municípios: AnduloCamacupaCatabolaChinguarChitemboCuembaCunhingaKuito e Nharea
A província possui o tamanho comparável ao de nações como Portugal ou República Checa, ela encontra-se situada no centro de Angola e faz fronteira com as seguintes províncias:
O rio Kwanza nasce nesta província, juntamente com a maioria dos rios do país. Com isso a província adquire grande potencial hidroeléctrico.

O Bié foi muito atingido durante a Guerra Civil Angolana e ainda se está a recuperar. Alguns serviços básicos como energia eléctrica já estão a funcionar normalmente na região.

Até 1975 designou-se Silva Porto, em homenagem ao explorador português Silva Porto.

Clima

O clima é húmido e quente, as temperaturas variam de 19ºC a 21ºC e existem 2 estações: de Outubro até Abril, que é quente e chuvoso; entre Maio e Setembro é seco com temperaturas médias de 2ºC e 10ºC graus nos meses de maior frio e 18ºC até 25ºC em períodos de clima mais quente.

Etnias

Esta província é uma área de confluência de uma série de etnias . Prevalece a dos Bienos,-um subgrupo dos Ovimbundu, cujo nome se relaciona com o nome da província. Observa-se alguma presença de grupos Chokwe que, na sua migração a partir do nordeste de Angola chegaram até aqui. Finalmente, existem aqui pequenos povos enquadrados na categoria etnográfica Ganguela, como p.ex. os Lwimbi.



Pavilhão gimnodesportivo, construído em 1970. Na época foi o maior pavilhão de desportos português





Deixei a minha cidade em Angola no ano de 1974. Nunca mais lá voltei. Lembro-me da cidade como ela era até hoje. Passaram 42 anos
Edifício do Banco de Angola

Uma das praças da cidade - Jardim da Pouca Vergonha

O Jardim da Pouca Vergonha é uma das atracções principais da cidade, com estátuas de mulheres nuas que (sejamos honestos) não ruboriza a cara de ninguém. 


Uma das Avenidas da cidade


A cidade onde nasci - Que grande saudade








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